Alguns demoram para aprender dos erros e tomar um jeito na vida. Foi o que aconteceu comigo. Eu nasci e fui criado em Barcelona, a segunda maior cidade da Espanha. Minha família morava numa região chamada Somorrostro, que incluía boa parte das praias da cidade. Somorrostro tinha a fama de ser uma região perigosa por causa do crime e do tráfico de drogas.

 Eu era o mais velho de nove filhos. A gente era muito pobre, então meu pai me mandou trabalhar num clube de tênis. Eu apanhava as bolinhas que caíam fora da quadra durante a partida. Eu tinha 10 anos e trabalhava dez horas por dia. Por isso, eu não pude ir para escola como a maioria das crianças da minha idade. Com 14 anos, comecei a trabalhar como operador de máquina em uma serralheria.

 Em 1975, fui convocado para o serviço militar, que era obrigatório na Espanha. Eu queria me aventurar. Então dei meu nome para servir na Legião Estrangeira Espanhola em Melilla, um território espanhol no Norte da África. Nessa época, mergulhei no mundo sujo das drogas e das bebidas.

 Quando saí da Legião Estrangeira, voltei para Barcelona e formei uma gangue. A gente roubava tudo o que via pela frente e daí vendia para manter o vício. Eu comecei usando LSD e anfetaminas. Minha vida era só sexo, bebidas e apostas. Esse tipo de vida me tornou cada vez mais violento. Eu tinha sempre comigo uma faca, um machado ou um facão. Eu não tinha medo de usar essas armas se precisasse.

 Uma vez, eu e minha gangue roubamos um carro e a polícia começou a perseguir a gente. Parecia uma cena de filme. Fugimos por uns 30 quilômetros, daí a polícia começou a atirar. Nosso motorista acabou batendo o carro e todo mundo saiu correndo. Não culpo o meu pai de ter me expulsado de casa quando descobriu tudo o que tinha acontecido.

 Depois disso, morei nas ruas por cinco anos. Dormi em entradas de prédios, em caminhões e em cemitérios. Por um tempo, morei até mesmo numa caverna. Minha vida não tinha nenhum objetivo, era como se não fizesse a mínima diferença estar vivo ou morto. Lembro de uma vez, quando eu estava drogado, que cortei meus pulsos e braços. Eu ainda tenho as cicatrizes.

 Eu tinha 28 anos quando minha mãe foi atrás de mim pedindo para eu voltar pra casa. Eu concordei e disse que ia mudar de vida, mas demorou um pouco para eu cumprir essa promessa.

 Numa tarde, duas Testemunhas de Jeová bateram na minha porta. Enquanto eu ouvia o que estavam dizendo, meu pai gritou lá de dentro pra eu bater a porta na cara delas. Como eu nunca fui de receber ordens, fingi que nem ouvi. Elas me ofereceram três livros e eu aceitei com muito prazer. Perguntei onde elas se reuniam e, uns dias depois, lá estava eu na frente do Salão do Reino.

 A primeira coisa que reparei era como todo mundo estava bem vestido. Mas eu estava cabeludo, barbudo e malvestido. Estava na cara que eu não me encaixava ali, então fiquei do lado de fora. Mas fiquei surpreso quando vi Juan, um ex-colega e membro de gangue, usando terno. Depois descobri que fazia um ano que ele tinha se tornado Testemunha de Jeová. Quando vi Juan ali, ganhei coragem para entrar e assistir à reunião. E foi aí que tudo começou a mudar pra mim.

 Eu aceitei estudar a Bíblia e logo percebi que, se eu quisesse ser amigo de Deus, teria que abandonar meu jeito violento e minha vida imoral. Não foi fácil fazer essas mudanças. Aprendi que, para agradar a Deus, eu tinha que ‘ser transformado e renovar a minha mente’. (Romanos 12:2) A misericórdia de Deus me emocionou. Senti que ele estava me dando uma chance para começar de novo apesar dos meus erros. O que aprendi sobre Jeová Deus me tocou muito. Ficou claro para mim que existia um Criador que se importava comigo. — 1 Pedro 5:6, 7.

 Isso me motivou a começar a fazer mudanças. Por exemplo, quando surgiu o assunto sobre fumar, eu disse para mim mesmo: ‘Se Jeová quer que eu seja puro e limpo em todos os sentidos, tenho que me livrar desses cigarros.’ (2 Coríntios 7:1) E eu me livrei! Eles foram pra lata de lixo.

 Eu precisava também parar de usar e de vender drogas. Levou um tempo, não foi fácil. Eu sabia que, para conseguir isso, eu não poderia mais ter amizade com os meus antigos colegas. A companhia deles não estava me ajudando a progredir espiritualmente. Mas, com o tempo, eu comecei a confiar mais em Deus e a aceitar a ajuda dos meus novos amigos da congregação. O amor e o interesse deles por mim era algo que eu nunca tinha sentido antes. Os meses foram passando e, finalmente, consegui abandonar as drogas e me ‘revestir da nova personalidade’, que me ajudaria a ter a aprovação de Deus. (Efésios 4:24) Em agosto de 1985, eu me batizei e me tornei uma Testemunha de Jeová.

 A Bíblia deu uma guinada na minha vida. Ela me livrou de uma vida péssima que estava acabando com meu corpo e com a minha dignidade. Na verdade, mais de 30 dos meus antigos colegas morreram ainda jovens de aids ou de outras doenças relacionadas às drogas. Os princípios bíblicos me ajudaram a fugir dessas consequências trágicas. E eu agradeço muito por isso.

 As facas e machados que eu carregava quando era um jovem violento são coisas do passado. Eu nunca pensei que no lugar dessas armas eu carregaria uma Bíblia para ajudar outras pessoas. Hoje, eu e minha esposa somos ministros de tempo integral das Testemunhas de Jeová.

 Meus pais nunca se tornaram Testemunhas de Jeová, mas eles reconheceram que o estudo da Bíblia fez bem para mim. Meu pai até mesmo defendeu as Testemunhas de Jeová na frente de todos os colegas dele. Para ele, minha nova religião trouxe grandes mudanças para melhor. Minha mãe sempre dizia que eu deveria ter começado a estudar a Bíblia antes. Ela tinha toda a razão!

 Tudo o que passei na vida me mostrou que não faz sentido nenhum procurar felicidade nas drogas ou em outros vícios. Agora eu sou feliz de verdade ajudando outros a aprender os ensinos da Palavra de Deus — ensinos que realmente salvaram minha vida.